— Bom dia, seu Vitório.
Vitório, na porta, cumprimentou-o com um aceno de mão e voltou a olhar a rua.
— Bom dia, Vicente!
— Bom dia, dona Janice. — Descansou a mão no balcão, ao largar o bilhete com a lista de compras mais próximo da mulher. — A lista é pequena.
— Não preciso de muito.
— E o hóspede?
— Hóspede? – Vicente não sabia do que se tratava.
— O moço passou por aqui — fez uma pausa, talvez esperando alguma resposta, enquanto buscava as coisas da lista na prateleira. — Pediu informações sobre como encontrar você. Indicamos a estrada e dissemos para parar e pedir informações quando chegasse perto da capela.
— Não vi ninguém pela estrada. Saí muito cedo.
O desconforto não tardou em surgir. Alguém procurando por ele àquela altura do campeonato nada tinha de comum. Saíra cedo e o armazém de Janice ficara por último.
— Disse que se chama Israel. É um moço jovem. De Porto Alegre.
— E cabeludo! — Vitório gritou já se sentando na bancada, próxima da porta. — Um daqueles hippies que falam na televisão. Parecia uma mulher.
O homem resmungou e Janice meneou a cabeça.
— Você é um atrasado! Estão na moda esses cabelos de discoteca. E pare de implicar – ainda esbravejou. – Na cidade grande, essas coisas não se reparam — a mulher continuou quando Vicente voltou o olhar para ela. — Talvez deva levar um pouco mais.
— Não tenho parentes na capital.
Os olhos castanhos e cuidadosos da comerciante perguntavam sobre o que não queria lembrar. A família que Dario arrumara, vivia na capital. O tal sobrinho, que nunca vira, era um total estranho. Dezesseis anos depois da morte do irmão, alguém ressurgia daquele passado de desgraça.
— E se for algum parente, não vai ficar mais do que um dia – respondeu, enquanto observava Janice recolhendo tudo o que fora listado.
A mulher colocou as compras nas sacolas de pano. Contou o dinheiro. Devolveu o troco, mínimo.
Vicente saiu silencioso.
O caminho de volta foi recheado de pensamentos. O passado voltava aos golpes, disposto a lhe questionar.
NOTA:
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