Sensual, simbólica e mágica. Liberdade e ousadia. Uma alegoria ao amor.
O Beijo (Der Kuss) – tela do pintor austríaco Gustav Klimt. Óleo sobre tela, medindo 180×180 centímetros. É uma das obras mais conhecidas do pintor e pertence a um período chamado fase dourada. Vemos nessa pintura um homem envolvido num manto dourado adornado com figuras inclinando-se para beijar uma mulher que está de joelhos. Vemos, dos corpos dos enamorados, apenas os rostos e as mãos de ambos, e os pés flexionados da mulher. A obra está inserida no período da Art Nouveau.
Escolho essa obra (leia ao final a proposta do desafio) porque ela é extremamente erótica, simbólica e mágica. Klimt utiliza elementos estilizados da pintura decorativa, símbolos da natureza, linhas, florais e formas geométricas para compor essa imagem. É possível sentir a liberdade, a ousadia e o envolvimento do pintor com o que está representado.
Gosto demais dela porque é uma alegoria ao amor. Considero extremamente sensível a maneira como ele desenvolve o fundo em tons dourados e como esses tons abraçam o casal, fazendo com que o envolvimento amoroso esteja acima de qualquer outra coisa no mundo. Os amantes estão fundidos, confundindo-se debaixo do manto, rodeados pelo que é a vida, representada pelos ornamentos geométricos e naturais, e deixam claro o que é entendido por primeiro quando nós nos apaixonamos: o amor é eterno. Ao mesmo tempo, o fundo que os envolve, também nos remete a um vazio subjetivo e à consciência de que toda a existência chega ao fim. Um contraponto na eternidade do amor. A vida é finita. O amor, não.
Gosto dos símbolos que ele utiliza e nessa obra eles regem os corpos. Ali, quase não se percebe o que é feminino ou o que é masculino. As vestes cobrem as formas e, mesmo que haja uma relação entre padrões retangulares e circulares com o masculino e o feminino, não conseguimos distinguir as particularidades por completo. Então, as identidades dos amantes, com relação ao gênero, ficam sutis.
Eu vejo na imagem um erotismo discreto, uma comunicação de corpos, sim, mas de almas. O amor vai além do corpo. Vejo a necessidade da correspondência, mas também a submissão, um apaziguamento do que é desejo individual para o que é desejo comum, solução mútua. Existe uma poesia violenta e ao mesmo tempo tranquila, uma tensão que se dissolve quando deixamos de ver o casal para ver, aí, uma união de almas. E isso é romântico, não apenas sensual.
E, apesar de não haver movimento, de encontrarmos uma rigidez na representação, tudo na imagem é leve e mutável. É uma fusão de coisas, assim como é a vida. Estamos ligados a tudo. O universo é um só.
Além disso, tem o beijo que está para acontecer. Está para acontecer! É mágico. Essa coisa física que a imagem passa tem uma carga incrível de sensualidade, de um jogo de sedução que está no entendimento, da intimidade que a cena nos remete, do simbolismo da posição que ambos ocupam. Essa imagem fala da fantasia amorosa, da cama de flores, daquilo que é profano e também sagrado no amor.
Nota: Fui desafiada no ano de 2016 a escolher uma obra ou objeto de arte e escrever sobre o porquê de admirá-lo. Esse texto é o resultado dessa empreitada. Um exercício e tanto, mas é por essas e outras que a Arte DEVE fazer parte da nossa vida. Há quem afirme que artistas são dispensáveis. Não creio. Impossível viver sem Arte, sem essa beleza explícita ou implícita, sem as relações que construímos a partir dos elementos compositivos. Tudo é tão perfeito nas mãos de determinados artistas… Arte nos mostra quão sensíveis (ou fortes, ou covardes, ou…) podemos ser frente a nossa efêmera condição humana.