Opsianie Świata (Resenha) ~ Evelyn Postali

“Tome — disse Bopp, estendendo-lhe um caderninho preto. — É um presente. Serve para fazer anotações. Para que o senhor escreva o que passou. Ajuda a superar. E a não esquecer. A gente escreve para não esquecer. Ou para fingir que não esqueceu. (…) Ou para inventar o que esqueceu. Talvez a gente só escreva sobre o que nunca existiu.”

Opsianie Świata, de Verônica Stigger, foi uma agradável surpresa, quando, no início do ano de 2018, por efeito de uma crítica negativa ao livro, resolvi avaliar por mim mesma o conteúdo.

O livro tem uma estética singular, apesar do formato comum, 14×20 cm. Com orelhas de 12 cm, foi confeccionado em papel Pólen Soft 80 g/m², escrito em fonte Sentinel, Tablet Gothic, e publicado pela Cosac Naify em 2015, 2ª impressão. Ele carrega, em seu interior, imagens de postais antigos de Manaus e do interior de navios, anúncios de jornais, mapas, cardápios de restaurante, entre outras figuras devidamente encaixadas no conteúdo da história à medida que ela se desenrola. Algo peculiar e atraente. Simplesmente encantei-me com isso.

A história conta a trajetória de Opalka, saindo de Varsóvia, na Polônia, até o Brasil, vindo para encontrar-se com seu filho Natanael, que lhe escreve uma carta por estar à beira da morte, em Manaus. Opalka, que viveu no Brasil durante um período de sua juventude, acabou por engravidar uma jovem brasileira antes de retornar para sua terra natal. Durante a viagem ele faz amizade com Bopp, um sujeito extrovertido e estranho, contador de histórias vividas ao redor do mundo. E, no encontro desses dois personagens, a trama vai se tornando divertida e inusitada, entrelaçando-os em situações divertidas, bem–humoradas, com personagens secundários em trens e navios e com pequenas narrativas envolventes. Um diário de bordo divertido e profundo ao mesmo tempo, pela construção dos personagens e pelas reflexões que eles me trouxeram ao longo da leitura.

Opsianie Świata tem uma leitura rápida, e uma diagramação aberta. Eu li o livro, se contar tempo corrido, em pouco mais de quatro horas.

Dentro do texto dessa história existem vários intertextos. Curiosidade para os interessados em arte: Opalka é o sobrenome de um pintor polonês, possuidor de uma série de pinturas intitulada Opsianie Świata, que significa “Descrição do Mundo”.

Esse livro não tem um roteiro mirabolante. É um enredo simples, porém, a criatividade da construção de cada parte, identificada por cor e estrutura – as cartas em lilás claro, a viagem e os acontecimentos em terceira pessoa, as anotações de Opalka em primeira pessoa, as anotações de Bopp em forma de tópicos, as imagens de cartões postais e anúncios publicitários e de jornais em cor marrom, e as dicas de viagem em lilás escuro. Uma experiência de leitura única, encantadora, deixando-me, ao final, querendo ler muito mais.

1 Roman OPAŁKA (1931-2011)
da série “Describing the World”, 1969
gravura, papel, 78 x 65 cm;

2 Roman OPAŁKA (1931-2011)
“Adam and Eve”, 1968
da série “Describing the World”, 1969
gravura em ácido / papel, 59 x 49 cm (impressão)

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