Flores para Quitéria – Miniconto

Flores para Quitéria

Todas as manhãs de quinta-feira, Horácio saía do escritório de contabilidade, cruzava a praça e seguia até à loja de Dorival, dono de uma pequena floricultura na subida da rua adjacente à avenida principal.

Encomendava sempre as mesmas flores e solicitava entrega no mesmo endereço. Dorival não entendia a devoção daquele homem àquela mulher desconhecida.

Avistava-o ainda na esquina, de andar lento, com a bengala suportando a deficiência da perna. Um homem de meia idade, elegante e de pouco falar, cuja educação fazia inveja e inspirava o jovem florista. Quem dera um dia ele encontrasse um amor tão verdadeiro e duradouro quanto aquele a permear a vida do contabilista.

― Bom dia, Sr. Horácio.

― Bom dia, jovem Dorival. Como estão as vendas nessa semana?

― Nada mal. Ontem recebemos uma carga de flores diferentes. Violetas estão em alta. Parece que agora é moda presentear com violetas. Mas temos as orquídeas, também.

― Quero as de sempre, meu amigo. Quitéria gosta de flores do campo.

― Sim, senhor.

O moço preparou o pequeno buquê. Papel de seda, plástico transparente e um laço harmonioso para segurar.

― Entrego ainda hoje, Sr. Horácio.

― Certo. Agradeço ― conferiu o troco, guardou a carteira no bolso interno do sobretudo e despediu-se. ― Tenha um bom trabalho.

― O senhor também. Até mais!

Esperou-o sair e foi até a porta, olhando-o sumir na esquina. Retirou o jaleco e gritou para a funcionária.

― Júlia, vem cá! ― Colocou o capacete e juntou as flores. ― Preciso levar as flores para Quitéria.

A mulher sorriu e recomendou a costumeira oração. Dorival deu partida na moto e seguiu rua abaixo em direção ao cemitério.

* * * * * *

Every Thursday morning, Horacio left the accounting office, crossed the square and went to the shop of Dorival, who owns a small flower shop on the way up the street adjacent to the main avenue.

He always ordered the same flowers and requested delivery to the same address. Dorival did not understand the man’s devotion to this woman unknown to him.

Dorival could see him still on the corner, walking slowly, with his cane supporting the handicap of his leg. A middle-aged, elegant, and unspoken man whose upbringing was the envy and inspiration of the young florist. He longed to one day find a love as true and enduring as that to permeate the accountant’s life.

“Good morning, Mr. Horacio.”

“Good morning, young Dorival. How are sales this week?”

“Not bad. Yesterday we got a load of different flowers. Violets are on the rise. Looks like it’s fashionable now to give violets. But we have orchids, too.”

“I want the usual ones, my friend. Quitéria likes wildflowers.”

“Yes sir.”

The young man prepared the small bouquet. Tissue paper, colorless plastic and a harmonious bow to hold.

“I’ll deliver it today, Mr. Horacio.”

“Right. Thanks.” He checked his change, put his wallet in the inside pocket of his overcoat, and said goodbye. “Have a good work.”

“You too. See you later!”

He waited for him to leave and went to the door, watching the man disappear around the corner. He took off his coat and yelled at the employee.

“Julia, come here!” He put on his helmet and gathered the flowers. “I need to take the flowers to Quiteria.”

The woman smiled and recommended the usual prayer. Dorival started the motocycle and headed down the street toward the cemetery.

(tradução minha – havendo erro, aponte, obrigada)

Créditos da imagem: Evelyn Postali

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