SANGRIA
(Evelyn Postali)
— Tudo marra, tudo berra —¹
Coleirinho mestiço, livre de amarras
E aprisionado em terra tupiniquim.
Tudo é bode, tudo pode,
Não há tratado, não há regalo,
É luta incansável, dia sim, dia sim.
— Tudo marra, tudo berra —
Se Getulino ou Barrabaz,
Do agreste ninho, grita em voz partida,
Nada finda, atroz sangria,
É ainda, ainda agora,
No presente, nesta vida sofrida.
Coleirinho agreste, da Costa da Mina,
De poesia solta e ácida,
A ecoar satírica e burlesca
Nas entranhas desta terra.
Ainda é cor-estigma, ainda é bode,
Mal de nascença, preso à gaiola.
Ainda dói, ainda grita, ainda canta
O fogo da liberdade, ainda berra.
— Tudo marra, tudo berra —
Quero os grilhões quebrados,
Almas livres, a dor extirpada.
Quero a gama de cores
Em céu alvissareiro, Luiz,
E a igualdade exaltada.
Nota:
Poema escrito para a cartilha em homenagem a LUIZ GAMA.
1 QUEM SOU EU? (A Bodarrada) – em: Primeiras Trovas Burlescas de Getulino, de Luís da Gama – LITERATURA BRASILEIRA – Textos literários em meio eletrônico.
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