
AFINAL, VOCÊ É ESCRITOR(A)?
Sempre me questiono sobre isso. Afinal, olhar para o que se escreve não me remete o tempo todo a uma leitura crítica sobre o fazer. Até porque sou suspeita. Um texto pode estar bom aos meus olhos e ser uma porcaria – sim, é isso mesmo – aos olhos de outrxs leitorxs. Mas a questão não segue exatamente por esses caminhos. Ser ou não escritora, creio eu, envolve outros aspectos do fazer, ligados à construção textual, mas, também, ao que sou e faço no processo de escrita, e bem antes dele.
Sou alguém que que olha para a palavra e torce o nariz. Aquela palavra não cabe naquele contexto. Sou aquela que não se conforma e vai em busca de outra palavra, mais adequada, mais capaz de traduzir meu pensamento sobre algo. Dizem que escritorxs são quase-dicionários, colecionadores de palavras, às vezes esquisitas, às vezes em desuso. Palavras são iguais a cartas na manga. Escritorxs são bichos curiosos, sensíveis e percebem as mudanças da realidade com mais rapidez. São atentos às coisas e pessoas muitas vezes ignoradas por outros.
Eu sou aquela que foge constantemente da realidade. Não porque tenho a cabeça longe do corpo, mas porque sempre estou imaginando outros lugares, viajando nas aventuras que crio em minha mente. Lugares próximos ou distantes, reais ou imaginários. Escritorxs são viajantes desse mundo e ainda bem! Criar roteiros exige criatividade e um pensamento muito além do comum. E pensar o tempo todo é o que move essa criatura inventiva.
Se você é escritor(a) sabe exatamente do que eu estou falando.
Eu tenho no cotidiano um baú de ideias. Elas surgem das situações mais simples às mais inusitadas. É a observação que traz o conteúdo. Um gesto, uma frase, um lugar, uma canção. Tudo pode se tornar um texto, tudo pode contar uma história. A minha cabeça é um caos de roteiros, ora mirabolantes, ora mais simples. Não há nada de vazio na minha mente, nem quando eu mergulho no silêncio. Até mesmo o vazio serve de tema, de gatilho para a construção de algo. Escrever, escrever, escrever. Verbo que traduz a essência de quem enxerga a Literatura, a escrita, a leitura, o livro como necessidade básica, feito o ar que se respira. Por isso possuo mais livros do que sapatos.
A leitura está em toda a parte. Livros são os objetos mais próximos, mais amados, quase insubstituíveis. Eu confesso: tenho ciúmes dos meus livros porque é através deles que entendo o processo de construção de determinadas narrativas, de junções de palavras, do uso dos diálogos. Se você lê constantemente, vai concordar comigo. A leitura nos faz refletir sobre nosso próprio processo de construção. E tem outra: eu prefiro escrever ao invés de falar. Na escrita, consigo organizar melhor o meu pensamento. Escrevo, leio, reescrevo, leio, até ficar de acordo, até não sobrar ou faltar algo importante.
E, vamos ser sinceros, escritorxs são pessoas que não param, que funcionam em 220v. Estão sempre em busca de aprimoramento. Escrever melhor é sua meta diária. Não é somente uma terapia. É evolução.
Então me diz: você é escritor(a)?
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