
O CÃO, O VELHO E O MAR
Desceu do carro e foi em direção ao mar, aquela imensidão azul de voz murmurante morrendo na areia. Segurou o cão no colo, aquela criatura peluda minúscula que o fizera esquecer as amarguras, mas não fizera a dor afastar-se por mais travessuras e brincadeiras que engendrasse.
Parou diante da água. De terno escuro e camisa branca, observou a quietude da praia isolada. As ondas molharam os sapatos.
O cão estava velho e doente. Ele, morria todos os dias.
“Só alguns metros para frente. Alguns passos para dentro.”
Hesitou.
— Ainda há o que se viver? – perguntou como se esperasse uma resposta do mar.
O puxão no casaco veio logo em seguida. A mão e o cabelo grisalho denunciavam a idade do homem que o tirava para trás.
— Ainda há o que se viver — afirmou um velho descalço, de olhar reprovador, apoiado na bengala.
Deixou-se levar para fora.