Crônica da Vida que Passa… (13)

Créditos da Imagem: Evelyn Postali

AS ANDORINHAS NÃO PRECISAM APRENDER NADA

Minha cozinha tem três janelas. Uma delas, bem grande, voltada para o Leste. É por ela que os gatos entram, a luz bate nas violetas do balcão e a mesa de desenho é iluminada.

Uma mesa de desenho na cozinha? Sim. É um espaço grande, então, está dividido em dois – a cozinha e meu lugar de trabalho – onde escrevo, desenho, leio, planejo coisas.

Enquanto eu trabalho, seja na cozinha ou na mesa de desenho, eu observo a rua, parte das casas vizinhas, meu jardim suspenso, os morros distantes, o céu…

E nem todos os dias são iguais. Hoje, por exemplo, entraram duas andorinhas pela janela, iludidas pelo reflexo do céu no vidro.

Há muitas andorinhas por aqui quando o calor desponta. Andorinhas e voos rasantes.

Dessa janela, eu observo, no final da tarde, os movimentos exímios que elas executam para entrar na chaminé da casa da frente. Elas circulam o telhado uma, duas vezes, e, depois, miram a entrada menor e se lançam para ela, recolhendo as asas, balançam o corpo duas, três vezes em um movimento curto. Depois, recolhem as asas e acertam a pequena entrada sem sequer baterem nas laterais da construção. Nove, dez andorinhas, todas dentro de uma só chaminé.

A chaminé tem formato retangular e as aberturas maiores poderiam ser mais adequadas para a entrada, mas não. Elas entram pela abertura menor, voltada para Oeste, deixando o sol às suas costas. Tem lógica. É claro que tem lógica. Se elas escolhessem a abertura maior, pela velocidade que têm no momento da entrada, sairiam pelo outro lado e não ficariam dentro dele. A extensão dada pela abertura menor é mais segura.

Fico me perguntando: como elas sabem disso? Como sabem que se entrarem pela abertura maior não conseguirão deter a velocidade a tempo e sairão pelo outro lado? Como sabem da necessidade de balançar o corpo para reduzir a velocidade e acertar a abertura? Como sabem quando fechar as asas para não bater nas laterais?

Então, vem aquela minha voz interior e diz ‘sossega, que isso é coisa da natureza, que sabe exatamente como fazer sem ter professor’. A única coisa que me resta é a admiração, o encantamento. As andorinhas não precisam aprender nada.

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