
O PÉ DE CAQUI
A filha viera em uma última visita. Trouxe os filhos e o marido. ‘Estamos de férias, pai’, disse, mas ele sabia que era um adeus.
A neta não o largou um minuto.
— Ela costumava carregar de frutos…
— A árvore já é velha, vô – a menina respondeu, segurando sua mão.
E ele voltou no tempo.
Plantou o pé de caqui no primeiro ano de casamento, bem em frente à janela da sala, de onde sentava-se e observava a mudança das estações.
— O tempo passou depressa.
Naquele outono, a janela parecia maior. O clima, mais frio. A cadeira, menos confortável.
Adormeceu. A neta juntou o irmão mais velho e os pais. ‘Esforço conjunto’, disse, usando a expressão do avô paterno. Trabalharam a noite toda pintando de alaranjado escuro bolinhas de isopor e pendurando nos galhos secos da árvore do quintal.