
20 POEMAS PARA NOVEMBRO – Um resgate histórico-cultural do Coletivo de Raça, Gênero e Diversidade da ASERGHC é um livro construído e pensado como “forma de visibilizar a história e valorizar a cultura da população negra” como bem diz sua apresentação.
Não são apenas textos e poemas que se inserem nesse livro. São lutas seculares contra as mais diversas formas de preconceito. Lutas incansáveis de mulheres e homens que, não apenas com sua força de vontade, mas, também com seu espírito de luta pela igualdade e liberdade de vida, construíram o que se ergue, hoje, em solo gaúcho. Uma história de homens livres vindos da África, escravizados pelo colonialismo; história entrecortada por imposições, cuja cultura foi silenciada e desvalorizada em sua riqueza.
“A educação é a fonte da sabedoria e o conhecimento negado ao povo preto após a abolição é uma estratégia para sufocar nossa libertação.”
A data de 20 de novembro, apresentada pelo célebre escritor gaúcho Oliveira Silveira e o Grupo Palmares como a data de Consciência Negra, provoca nossa reflexão sobre a invisibilidade dos povos originários da África, ainda presente hoje, na construção deste Estado.
Querer mudar a sociedade atual, deficiente em questões do bem-estar social e econômico, para uma sociedade igualitária e capaz de acolher a todos(as) é querer fortalecer o que se entende por sociedade real, onde a cor de nossa pele, nosso gênero, nossa crença, nossa ideia de vida, de amor e liberdade tenha como base o respeito e a justiça, sem mascaramentos, sem dissimulações.
Este livro não contém apensas poemas e textos sobre capoeira, sobre figuras ilustres, sobre quilombos, lanceiros ou panteras negras. Este livro fala da história de muitos(as), do passado ao presente; fala das muitas vozes erguidas contra a liberdade que foi tolhida. Canta, versa, grita.




SANGRIA
(Evelyn Postali)
— Tudo marra, tudo berra —¹
Coleirinho mestiço, livre de amarras
E aprisionado em terra tupiniquim.
Tudo é bode, tudo pode,
Não há tratado, não há regalo,
É luta incansável, dia sim, dia sim.
— Tudo marra, tudo berra —
Se Getulino ou Barrabaz,
Do agreste ninho, grita em voz partida,
Nada finda, atroz sangria,
É ainda, ainda agora,
No presente, nesta vida sofrida.
Coleirinho agreste, da Costa da Mina,
De poesia solta e ácida,
A ecoar satírica e burlesca
Nas entranhas desta terra.
Ainda é cor-estigma, ainda é bode,
Mal de nascença, preso à gaiola.
Ainda dói, ainda grita, ainda canta
O fogo da liberdade, ainda berra.
— Tudo marra, tudo berra —
Quero os grilhões quebrados,
Almas livres, a dor extirpada.
Quero a gama de cores
Em céu alvissareiro, Luiz,
E a igualdade exaltada.
¹ QUEM SOU EU? (A Bodarrada) – em: Primeiras Trovas Burlescas de Getulino, de Luís da Gama – LITERATURA BRASILEIRA – Textos literários em meio eletrônico.
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