Escreveu o último roteiro teatral na clínica. Seu desejo final não teria atores profissionais, só o pessoal da enfermagem e manutenção. Pessoas que cuidavam dela o tempo todo.
A história? Uma história de amor, de amizade, de encontros. Porque aquele era o desencontro final.
Tratou de aproximar todos os opostos: Laura com Caio, Júlio com Renato, Fernanda com Zilá. Um plano meticuloso.
Experimentou as perucas. Loira, ruiva, morena. Escolheu as músicas. Distribuiu as falas.
Ninguém contestou os desejos de uma moribunda e a peça aconteceu, enfim, em uma noite fria de outono, debaixo do pergolado do pequeno jardim. Na plateia, os pais e alguns poucos amigos.
— Vamos nos encontrar novamente, se pudermos.
A fala final foi dela, voltada para aqueles que se tornaram sua família, como se houvesse outra vida; como se o aqui e o agora fossem meros pontos de início. Não desejava senão aquela certeza, de que, se houvesse uma partida, que ela fosse de curta duração.
Tudo que se prende no olhar 