Crônica da Vida que Passa… (16)

Créditos da imagem: Thomas Hawk – link nas notas.

A PÁGINA SOCIAL

Então, eu abro o jornal da semana passada em uma escolha aleatória para forrar a mesa de trabalho (porque a tinta a ser utilizada pode manchar a madeira) e lá está escrito: SOCIEDADE. Ah… A sociedade… Agrupamento de seres que convivem em estado gregário e em colaboração mútua; coletividade – segundo o dicionário.

Empresários da indústria e comércio, médicos, engenheiros, comerciantes, advogados… e eu penso, logo existo ou não, mas definitivamente não faço parte do grupo seleto apresentado na coluna semanal cujo nome me remete a algo maior (bem semelhante ao que a maioria dos dicionários registram).

Detenho-me por algum tempo. Vejo e leio, través de fotografias e breves textos descritivos, notícias sobre pessoas. E puxo da memória a fala de alguém do passado e sorrio. “Pessoas de projeção social” – projeção social, aqui, no sentido figurado ‘destaque, prestígio ou relevância que alguém granjeia’.

Imagino que, hoje, poucos realmente têm acesso a jornais físicos, mas de qualquer maneira, lá estava eu, a refletir sobre quem realmente representa a sociedade na qual estou inserida. Pessoas bem-vestidas, maquiadas, sorrindo a felicidade em dentes brancos, abraçadas a seus companheiros e companheiras ou amigas(os), apresentando-se como representantes legítimos da sociedade. Não o são? Claro que são, mas ‘há controvérsias’, como diria o personagem de Francisco Milani, o Pedro Pedreira.

Onde estão os professores, os pedreiros, os agricultores… E os atendentes, os agentes de saúde, os garçons…? Onde estão os trabalhadores braçais, o vendedor ambulante, o dono da banca de jornais? Onde estão os pés e braços, os músculos, o suor, o sangue, dessa sociedade?

‘Você é a chata que critica tudo, que vê defeito em tudo, mas todos têm sua importância’ – sei de alguém que diria isso para mim nesse exato momento. E concordo. Todos têm sua importância na construção da sociedade. Resta saber que tipo de sociedade se está construindo; o que é simulacro e o que é real; o que é imagem enganosa e o que é verdade de fato; o sonho e a decepção.

Mas enfim, deixo de lado essa perturbação – porque sou uma pessoa que vê pelo em ovo – e coloco a minha tela sobre o jornal, dando as primeiras pinceladas. Melhor terminar a pintura antes que a hora se perca.

Créditos da imagem

Thomas Hawk

Publicidade

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s