
Sentado ao lado da cama, abriu o bloco de papel.
A mulher, deitada à sua frente, olhava para a janela, para as árvores mais distantes, enquanto a chuva encharcava os bancos da pracinha da casa de repouso.
O trabalho era simples. ‘Apenas uma última imagem’, disse a filha da moribunda de mais de oitenta anos.
Rabiscou os primeiros traços. Conversas entre enfermeiras. O soro descendo a passo. Medicamentos para aliviar a dor e uma vida se esvaindo. O formato do rosto, a posição dos olhos, nariz, boca, orelha, cabelos. Horas passando devagar. Aquelas rugas. Os olhos caídos. O cansaço na curva da boca. Os cabelos desalinhados. Não era justo. Refez o desenho. Colocou cor e diminuiu a dor da imagem. Agora sim. Estava pronto.