
Ejetou-se da cabina assim que o incêndio interno atingiu proporções incontroláveis. Foi lançado ao espaço em uma fração de segundos. Foi se distanciando da nave como em sonhos, com lentidão e suavidade. Girou o corpo e assistiu à desintegração do que antes fora sua casa por anos a fio; a casa que o fazia circular pelo cosmos em busca de algo que sequer ele mesmo sabia.
Ao seu redor, a escuridão e pontos cintilantes, distantes anos-luz de onde estava agora, acenavam com discrição. Calculou, como sempre fazia. Os marcadores apontavam o fim. Tinha cada vez menos o que respirar. Cada vez mais sono. Os olhos pesados. Entregou-se ao espaço. Afinal, aquele vazio o abraçava tão aconchegante quanto no começo e talvez fosse ali, em meio ao nada, o lugar certo.
O corpo flutuava. Ele também. Enquanto o corpo degenerava, ele, extasiado, seguia de olhos abertos na imensidão, iluminada e perpassada por bilhões e bilhões de sóis, por cometas e meteoros, corpos celestes estranhos e nuvens de poeira cósmica. Dentro daquele traje, junto à carcaça, já não batia coração algum. No entanto, sentia-se completamente vivo e pulsante. Dentro dele habitava tudo; o universo inteiro, pleno e esplêndido.