Asas – Miniconto

― Empreste-me suas asas para que eu conheça as alturas e percorra, mais veloz, as distâncias, passando por cima do arvoredo e das casas.

O Gato fez a proposta em uma manhã preguiçosa de verão, debaixo da laranjeira, entre as pedras e flores da dona Nô. Todos os dias observava os pássaros das redondezas. Ambicionava as asas, coisa em falta desde nascença. Questionava-se sobre a injustiça de alguns terem recebido instrumento tão precioso e não terem pretensão maior além de apenas voar de um lado para outro, em vida tão simples, tão comum.

A avezinha inclinou a cabeça em gesto delicado, atenta ao falar manso daquele bichinho peludo, de olhar encantador.

― Então ― recebendo o silêncio como um ‘não’ ―, ensine-me a voar, Passarinho. Sou aluno aplicado; aprendo fácil.

 

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― Se quer mesmo aprender a voar deve saber que o segredo do voo não está nas asas.

― Se não está nas asas, onde está?

― Está dentro de você ― respondeu o Passarinho.

― Que tipo de professor de voo é você, afinal? ― e deu um salto. Agarrou-se na madeira da grade, afugentando a ave.

De cima da cerca, ficou a observar o voo e a desejar as asas.

Créditos das Imagens: Evelyn Postali

Di silenzi…

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Il mio silenzio ha molte facce.
La migliore è la vostra.
Tra l’indecisione, la croce,
La prima bugia e il volo.
Dopotutto, siamo noi
Per contenere la scena,
Infrangere la norma
O sconta la pena.
Nessuna pagina indecisa,
O felicità perpetua
In questo libro afflitto dal desiderio
Esigendo il mattino, la finestra aperta,
O la fatica
Nel mantenere la vicinanza.
Il mio silenzio ha molte facce.
Una va avanti
L’altra, massacrami.