UM PÁSSARO MORREU HOJE
A vitrina, de reflexos coloridos o engoliu.
Mostrou sua própria imagem
— Narciso que era,
e o enganou.
Não havia contraste entre o chão e as penas.
Nem uma leveza sequer.
Sequer contorno.
Vi o desassossego refletido no vidro.
Quis chorar uma lágrima por ele — chorei um mar.
A cidade é assim, de homem para homem:
enganadora,
ilusionista
de mágicas cruéis e inescrupulosas.
Nosso engano está no olhar.