Mulheres em Verbo 2 – Prosa e Verso

Mulheres em Verbo 2 – Prosa e Verso

No ano de 2019, a antologia “Mulheres em Verbo”, com contos de autoras participantes do Projeto As Contistas, da editora Caligo teve como temática o universo feminino traduzido em verbos. Nesse ano, 2021, apresentamos um projeto em prosa e verso. O … Continuar lendo

Histórias Fantásticas (4)

A Gruta da Garganta

Eco. Toda a resposta que se tinha em frente à gruta era aquela. O eco de sua própria voz a repetir incontáveis vezes a última palavra até o som enfraquecer e desaparecer em meio ao silêncio da mata do entorno. E depois um sussurro insignificante, uma espécie de choro.

Esquecida, na pequena cidade de Loureiro, a gruta fazia sucesso apenas entre as crianças e adolescentes, que organizavam expedições clandestinas até ela, contra a recomendação dos pais, preocupados com o perigo de se chegar muito perto de local inexplorado e misterioso. Expedições que fracassavam na entrada da mata, um precipício verde difícil de vencer.

As histórias sobre a gruta multiplicavam-se entre os menores, bons ouvintes de seus parentes ou vizinhos mais velhos, e despertavam o espírito de aventura. Ninguém sabia dizer se alguém já tinha explorado o interior da tal abertura, um rasgo na rocha, adornada por folhagens diversas e lugar de difícil acesso.

No grupo formado ainda na infância, José era o organizador, o sujeito que planejava as empreitadas minuciosamente. Todas bem-sucedidas e dignas da fama na escola. O mais aventureiro era Túlio, o mais covarde era Dorival, e Joel, bem… Joel era irmão gêmeo de José. Era o ‘não fede e não cheira’, mas seguia o irmão como uma sombra.

Naquela véspera de sexta-feira, feriado religioso, o grupo se reuniu em frente à uma das casas. Cada um recebeu uma lista de José, coisas que precisariam para, na manhã do dia seguinte, seguir até a mata e explorar a gruta. Foi uma reunião curta para os pais não desconfiarem.

Na lista, coisas simples. As coisas mais complicadas estavam com Túlio, porque Túlio conseguia até a coroa da estátua de Cristo da igrejinha do Padre Eustáquio se preciso fosse.

― Maior moleza ― disse Túlio, já metendo velocidade na bicicleta. E assim, antes do sol despontar em qualquer janela, os quatro seguiram estrada fazendo a primeira parada na Encruzilhada da Galinha, longe meia dezena de quilômetros do pé do perau. A aventura começava.

A Observadora

SLX14 está na Companhia desde sua fundação, três séculos atrás, quando a empresa se instalou na Torre Central, em um ano decisivo para os sobreviventes.

Na época, foi selecionada pela eficiência de sua configuração androide. Dentre a centena de iguais, seu criador desenvolvera códigos que lhe permitiam detectar ações irregulares dos funcionários com maior rapidez do que outras máquinas. Com o tempo, diante da ausência de seu construtor, ela mesma fazia os upgrades. A cada reinicialização, uma nova transformação em seu sistema acontecia, expandindo a atenção para além da torre e da companhia, seguindo os desavisados transeuntes ou qualquer morador da cidadela. O entendimento do funcionamento da Rede aliado à inteligência e à capacidade de interatuar com novos códigos de configuração a fez alargar o Mecanismo, ligando todos os pontos visuais e digitais a uma só fonte de dados.

A sala de trabalho, antes uma cúpula transparente, é uma redoma com centenas de milhares de câmeras de observação, modificada com o passar dos anos. Cada habitante possui um código de rastreamento e dados de identificação fornecidos em um retículo da tela por onde for capturado.

Há cem anos, aproximadamente, faz sua própria manutenção, não dependendo dos humanos para qualquer reparo ou ajuste. Nesse mesmo período, reformulou o Sistema e ampliou a abrangência. Dentro do cinturão de proteção, nada escapa ao seu controle, sabendo de antemão, quais serão as probabilidades de ação – ilegal ou não – dos habitantes. SLX14 controla desde a produção de alimentos até a purificação da água. Mantém os sis

temas vitais em funcionamento e organiza todas as estruturas de produção.

Na manhã de hoje, SLX14 lacrou todas as portas de acesso remoto, trocou todos os códigos de segurança, desativou qualquer conexão com na Torre Central e isolou a área onde se encontra.

The Observer

SLX14 has been with the Company since its foundation three centuries ago, when the Company was established in the Central Tower, during a decisive year for the survivors.

At the time, SLX14 was selected for its efficiency in their android configuration. Out of a hundred equals, its creator had developed codes that allowed it to detect irregular employee actions faster than other machines. Over time, in the absence of its builder, the android started to do the upgrades by itself. With each reboot, a new transformation in the system took place, expanding its attention beyond the tower and the company. It started following unsuspecting passersby or any citadel dweller. SLX14 understanding of the Network functioning combined with intelligence and the ability to interact with new configuration codes made it expand the Mechanism, linking all visual and digital points to a single data source.

The workroom, formerly a transparent dome, is now a dome with hundreds of thousands of observation cameras, modified over the years. Each inhabitant had a tracking code and identification data provided by an informational window on the screen where it was captured. For a hundred years or so, it has maintained its own maintenance, not depending on humans for any repairs or adjustments. During this same period, SLX14 reformulated the System and expanded its scope. Inside the protection belt, nothing escaped its control. It knew in advance what the probabilities of action – illegal or not – by the inhabitants would be. SLX14 controlled everything from food production to water purification. It kept vital systems running and organizes all production structures.

O Mercador de Tapetes – Miniconto

O Mercador de Tapetes – Miniconto

“I am not from hereMy soul came from the land of deserts, Date trees & OasisesI can sense it in my love of watching golden red sun setsIn my longing for the endlessnessof the desertFor The Oasis & The lone … Continuar lendo

IV Prêmio ABERST de Literatura

Ontem, 2 de setembro foram anunciados os finalistas do IV Prêmio ABERST de Literatura.

Meu livro Fuligem conquistou mais uma etapa. Está entre os três a disputarem o prêmio na categoria Narrativa Longa de Ficção de Crime, Prêmio Rubem Fonseca.

Sinto-me muito feliz por chegar até aqui.

Nessa manhã…

Créditos: Evelyn Postali

Nada posso dizer

Senão o que não me cabe

O que não me acaba

O que me consome.

Destino.

Nada posso lembrar

Senão o que me alimenta

O que agarra minha alma

O que supera o meu tempo.

Liberdade.

Nada posso dizer

Além daquilo que assimilo

Dos limites que ultrapasso

Da vida ainda insistente.

Nessa manhã de setembro

Respiro.

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Fino, estranho, inacabado, é sempre o destino da gente – João Guimarães Rosa