
Eco. Toda a resposta que se tinha em frente à gruta era aquela. O eco de sua própria voz a repetir incontáveis vezes a última palavra até o som enfraquecer e desaparecer em meio ao silêncio da mata do entorno. E depois um sussurro insignificante, uma espécie de choro.
Esquecida, na pequena cidade de Loureiro, a gruta fazia sucesso apenas entre as crianças e adolescentes, que organizavam expedições clandestinas até ela, contra a recomendação dos pais, preocupados com o perigo de se chegar muito perto de local inexplorado e misterioso. Expedições que fracassavam na entrada da mata, um precipício verde difícil de vencer.
As histórias sobre a gruta multiplicavam-se entre os menores, bons ouvintes de seus parentes ou vizinhos mais velhos, e despertavam o espírito de aventura. Ninguém sabia dizer se alguém já tinha explorado o interior da tal abertura, um rasgo na rocha, adornada por folhagens diversas e lugar de difícil acesso.
No grupo formado ainda na infância, José era o organizador, o sujeito que planejava as empreitadas minuciosamente. Todas bem-sucedidas e dignas da fama na escola. O mais aventureiro era Túlio, o mais covarde era Dorival, e Joel, bem… Joel era irmão gêmeo de José. Era o ‘não fede e não cheira’, mas seguia o irmão como uma sombra.
Naquela véspera de sexta-feira, feriado religioso, o grupo se reuniu em frente à uma das casas. Cada um recebeu uma lista de José, coisas que precisariam para, na manhã do dia seguinte, seguir até a mata e explorar a gruta. Foi uma reunião curta para os pais não desconfiarem.
Na lista, coisas simples. As coisas mais complicadas estavam com Túlio, porque Túlio conseguia até a coroa da estátua de Cristo da igrejinha do Padre Eustáquio se preciso fosse.
― Maior moleza ― disse Túlio, já metendo velocidade na bicicleta.
E assim, antes do sol despontar em qualquer janela, os quatro seguiram estrada fazendo a primeira parada na Encruzilhada da Galinha, longe meia dezena de quilômetros do pé do perau.
A aventura começava.
Créditos da imagem: Evelyn Postali